Correntezas



Sinto-me corrente
fluída nos tornozelos
aço na língua até os dentes
e uma tez branco gelo.
 
Bola de ferro arrastando o verso
no papel seda do cata-vento
escrevo dobraduras no dorso
na agrura do bom tempo.
 
Faz sol entre as pálpebras
fecho os olhos e atrevo o mundo
risco estrelas nas vísceras
nesgas de mar profundo.
 
Diria que as trevas são fecundas
afundar o pé no mangue
é ouvir o alimento que submerge e inunda
até o sangue.
 
Não é uma carta que escrevo
nem um pensamento que me ocorre
é chão morte céu e trevo
que em mim escorre.
 
A poesia pode cantar infernos
coletando flores nunca sentidas
atravessar sem asas todo inverno
sem voos suicidas.
 
Poemas sem datas ou nomes
simples beleza no caos
ainda presente naquele velho homem
Adão Neanderthal.
 
O pecado açoita o pecador
no limite entre o sonho e o espírito
alado dentro está o amor
pausado e irrestrito.
 
Cabe na corrente
todo infinito que movimenta
mãos hábeis e presente
que ao mundo alimenta.
- Iatamyra Rocha 
 

"As cruzes dos contemplativos são muito pesadas, e o senhor só as manda para as almas já provadas desde muito tempo."
- Santa Tereza D'Ávila. 
 
 
 
 

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